Durante cerca de meio século a Academia moveu-se lentamente ao longo do caminho aberto por Arcesilau, até que um novo impulso lhe foi dado por Carnéades (nascido em Cirene aproximadamente em 219 a.C. e morto em 129 a.C.), homem dotado de notável empenho e de uma excepcional capacidade dialética, unida a uma habilidade retórica extraordinária. Carnéades também não escreveu nada, confiando seu magistério inteiramente à palavra.
Segundo Carnéades, não existe nenhum critério de verdade em geral, como refere uma fonte antiga: ‘No que concerne ao critério de verdade, Carnéades opôs-se não só aos estóicos, mas a todos os filósofos que o precederam. Com efeito, o seu primeiro argumento, dirigido ao mesmo tempo contra todos os filósofos, é aquele com base no qual estabelece que não existe em absoluto nenhum critério de verdade: nem o pensamento, nem a sensação, nem a representação, nem qualquer das coisas que existem; com efeito, todas as coisas, em seu conjunto, nos enganam.”
Faltando um critério absoluto e geral de verdade, desaparece também toda possibilidade de encontrar qualquer verdade particular. Mas nem por isto desaparece também a necessidade da ação. E exatamente para resolver o problema da vida que Carnéades cogita sua célebre doutrina do “provável”, que pode ser resumida como segue.
a) A representação, em relação ao objeto, “é” verdadeira ou falsa; porém, em relação ao sujeito, “aparece” como verdadeira ou falsa. Posto que a verdade objetiva foge do homem, só resta ater- se ao critério daquilo que “parece verdadeiro” — e isto é o “provável” (pithanón).
b) Posto que as representações estão sempre conjugadas e coligadas entre si, um grau mais elevado de credibilidade oferece a representação que se faz acompanhar de outras que lhe são conexas, de tal maneira que não seja contradita por nenhuma destas. Então, temos a representação “persuasiva e não contradita” que possui, obviamente, um grau maior de probabilidade.
c) Por fim, temos a representação “persuasiva não contradita e examinada por todos os ângulos” quando, às características das duas precedentes, acrescenta-se ademais a garantia de um exame metódico completo de todas as representações conexas. E aqui temos um grau ainda maior de probabilidade. Nas circunstâncias em que for preciso ter que decidir com urgência, devemos nos contentar com a primeira representação; se tivermos mais tempo, procuraremos a segunda; se tivermos à disposição todo o tempo para proceder ao exame completo, a terceira.
Com base nessa doutrina, falou-se de “probabilismo carneadiano”, considerando-se esse probabilismo como uma posição intermediária entre ceticismo e dogmatismo. Recentemente, a crítica mostrou que a doutrina do “provável” de Carnéades, mais que como profissão de dogmatismo mitigado, deve ser entendida como argumentação dialédca voltada para derrubar o dogmatismo dos estóicos (assim como acontece na doutrina do razoável ou do plausível de Arcesilau). Em outros termos, Carnéades teria procurado mostrar que, como não existe critério absoluto de verdade, o sábio estóico regulava-se, como todos os homens comuns, segundo o critério do provável.
Eis o seu raciocínio: se não existe representação abrangente, tudo é incompreensível (acatalético) e a conseqüente posição a assumir é a) ou a epoché, isto é, a suspensão do assentimento e do juízo, ou então b) o assentimento dado àquilo que é ainda objetivamente incompreensível. Se, teoricamente, a primeira posição é a correta, ao contrário, é a segunda que praticamente nós, como homens, somos obrigados a abraçar para viver. Nem os estóicos podem ser exceção: portanto, o seu agir não deve se fundar num quimérico critério absoluto da verdade, mas no critério da probabilidade, que não é um critério objetivo, mas subjetivo e de qualquer forma, é o único do qual o homem dispõe.