Como vimos, os jónicos identificavam o divino com o “princípio”. Os pitagóricos também vincularam o divino ao número. Não com o 1, como fariam mais tarde os neopitagóricos, mas ao número 7, que “é regente e senhor de todas as coisas, deus, uno, eterno, sólido, imóvel, igual a si mesmo e diferente de todos os outros números”. O sete não é gerado (do produto de dois fatores), porque é número primo, nem gera (no interior das décadas). E aquilo que não gera nem é gerado é imóvel. Mas, para os pitagóricos, o sete era também o kairós, ou seja, aquilo que indica o “momento justo”, o oportuno, como a frequência dos ritmos setenários nos ciclos biológicos lhes parecia confirmar claramente.
Mas essa identificação, como bem se vê, permanece artificiosa. Analogamente, não está claro qual era, para os pitagóricos, a exata relação entre a alma-demônio e os números. Evidentemente, por serem individuais, as almas não podem ser um idêntico número. E se, como consta, alguns pitagóricos identificaram a alma com “a harmonia dos elementos corpóreos”, assim o fizeram agregando a doutrina de uma alma sensível à da alma-demônio, colocando-se em contraste com esta última doutrina ou, de qualquer forma, não sem evitar uma série de complicações.
Para poder tentar colocar ordem nesse campo, como veremos, Platão teria de recolocar a problemática da alma em bases inteiramente novas.