Corrompendo-se, a antilogia de Protágoras gerou a erística, a arte da controvérsia com palavras que tem por fim a controvérsia em si mesma. Os erísticos cogitaram de uma série de problemas, que eram formulados de modo a prever respostas tais que fossem refutáveis em qualquer caso; dilemas que, mesmo sendo resolvidos, tanto em sentido afirmativo como negativo, levavam a respostas sempre contraditórias; hábeis jogos de conceitos construídos com termos que, em virtude de sua polivalência semântica, levavam o ouvinte sempre a uma posição de xeque-mate. Em resumo, os erísticos cogitaram todo aquele arsenal de raciocínios capciosos e enganosos que viriam a ser chamados de “sofismas”. Platão apresenta a erística de modo perfeito em Eutidemo, mostrando todo o seu vazio.
Já os chamados sofistas-políticos derivam as suas armas do niilismo e da retórica gorgiana, quando não da contraposição entre natureza e lei.
Crícias, na segunda metade do século V a.C., dessacralizou o conceito dos deuses, considerando-os uma espécie de espantalho habilmente introduzido por um homem político particularmente inteligente para fazer respeitar as leis, que, por si sós, não têm força para se impor, sobretudo naqueles casos em que os homens não são vistos pelos guardiães da lei.
Trasímaco da Calcedônia, nas últimas décadas do século V a.C., chegou até mesmo a afirmar que “o justo é a vantagem do mais forte”. E Calícles, protagonista do Górgias platônico — que, se não é personagem histórico, pelo menos espelha o modo de pensar dos sofistas-políticos —, achava que,— por natureza, é justo que o forte domine o fraco, subjugando-o inteiramente. Mas, como já disse- mos, esses são os resultados deteriorados da sofística: a outra face, mais autêntica e positiva, iria ser revelada por Sócrates.