Já vimos que, embora de modos diversos, os sofistas realizaram um deslocamento do eixo da pesquisa filosófica do cosmos para o homem. E precisamente nesse deslocamento é que está o seu mais relevante significado histórico e filosófico. Eles abriram o caminho para a filosofia moral, embora não tenham sabido alcançar os seus fundamentos últimos, porque não conseguiram determinar a natureza do homem enquanto tal.
Mas certos aspectos da sofística que, para muitos, pareceram excessos puramente destrutivos, também têm um sentido positivo. Com efeito, era preciso que certas coisas fossem destruídas para que pudessem ser reconstruídas sobre novas e sólidas bases, assim como era preciso que certos horizontes estreitos fossem violados para que se abrissem outros mais amplos.
Vejamos os exemplos mais significativos.
Os naturalistas haviam criticado as velhas concepções antropomórficas do divino, identificando este com o seu “princípio”. Os sofistas rejeitaram os velhos deuses, mas, tendo rejeitado também a busca do “princípio”, encaminharam-se para uma negação do divino. Protágoras permaneceu agnóstico, Górgias foi mais além com seu niilismo, Pródico entendeu os deuses como hipostatização do útil e Crícias como invenção “ideológica” de um hábil político. E, naturalmente, depois dessas críticas, não se podia voltar atrás: para pensar o divino, seria preciso procurar e encontrar uma esfera mais elevada onde colocá-lo.
O mesmo pode ser dito sobre a verdade. Antes do surgimento da filosofia, a verdade não se distinguia das aparências. Os naturalistas contrapuseram o logos às aparências, só nele reconhecendo a verdade. Mas Protágoras cindiu o logos nos “dois raciocínios”, descobrindo que ele diz e contradiz. E Górgias rejeitou o logos como pensamento e só o salvou como palavra mágica, mas encontrou uma palavra que pode dizer tudo e o contrário de tudo, não podendo, portanto, expressar verdadeiramente nada. Como já disse um agudo intérprete dos sofistas, essas experiências são “trágicas”: e nós acrescentamos que se descobriu que elas são trágicas precisamente porque o pensamento e a palavra perderam o seu objeto e a sua norma, perdendo o ser e a verdade. E a corrente naturalista da sofística, que, de alguma forma, mesmo que confusamente, intuiu esse fato, iludiu-se de poder encontrar um conteúdo que fosse de alguma forma objetivo no enciclopedismo. Mas, enquanto tal, esse enciclopedismo revelou-se completamente inútil.
A palavra e o pensamento só iriam recuperar a verdade em nível mais elevado.
E o mesmo vale também para o homem. Os sofistas destruíram a velha imagem de homem própria da poesia e da tradição pré-filosófica, mas não souberam reconstruir uma nova. Protágoras entendeu o homem predominantemente como sensibilidade e sensação relativizadora, Górgias como sujeito de emoções móveis, suscetível de ser arrastado em qualquer direção pela retórica, e os próprios sofistas que se vincularam à natureza falaram do homem sobretudo como natureza biológica e animal, subentendendo e, de qualquer modo, silenciando a sua natureza espiritual. Para se reconhecer, o homem deveria encontrar uma base mais sólida.