A filosofia como necessidade primária do espírito humano

Alguém perguntará: mas por que o homem sentiu a neces­sidade de filosofar? Os antigos respondiam que tal necessidade está estruturalmente radicada na própria natureza do homem. Como escrevia Aristóteles: “Por natureza, todos os homens aspi­ram ao saber.” E ainda: “Exercer a sabedoria e conhecer são desejáveis pelos homens em si mesmos: com efeito, não é possível viver como homens sem essas coisas.” E os homens tendem ao saber porque sentem-se plenos de “admiração” ou “maravilham-se”, dizem Platão e Aristóteles: “Os homens começaram a filosofar, tanto agora como nas origens, por causa da admiração: no princí­pio, eles ficavam maravilhados diante das dificuldades mais sim­ples; em seguida, progredindo pouco a pouco, chegaram a se colocar problemas sempre maiores, como os problemas relativos aos fenô­menos da lua, do sol e dos astros e, depois, os problemas relativos à origem de todo o universo.”

Assim, a raiz da filosofia é precisamente esse “maravilhar- se”, surgido no homem que se defronta com o Todo (a totalidade), perguntando-se qual a sua origem e o seu fundamento, bem como o lugar que ele próprio ocupa nesse universo. Sendo assim, a filosofia é inapagável e irrenunciável, precisamente porque não se pode extinguir a admiração diante do ser nem se pode renunciar à necessidade de satisfazê-la.

Por que existe tudo isso? De onde surgiu? Qual é a sua razão de ser? Esses são problemas que equivalem ao seguinte: por que existe o ser e não o nadai E um momento particular desse problema geral é o seguinte: por que existe o homem, por que eu existo?

Como fica evidente, trata-se de problemas que o homem não pode deixar de se propor ou, pelo menos, são problemas que, à medida que são rejeitados, diminuem aquele que os rejeita. E são problemas que mantêm o seu sentido preciso mesmo depois do triunfo das ciências particulares modernas, porque nenhu­ma delas foi feita para resolvê-los, já que as ciências respon­dem somente a perguntas sobre a parte e não as perguntas sobre o sentido do todo.

Por todas essas razões, portanto, podemos repetir com Aris­tóteles que não apenas na origem, mas também agora e sempre, a velha pergunta sobre o todo tem sentido — e terá sentido enquanto o homem se maravilhar diante do ser das coisas e diante do seu próprio ser.