Crates foi discípulo de Diógenes e uma das figuras mais significativas da história do cinismo. Viveu provavelmente por volta do início do século III a.C. Difundiu o conceito de que as riquezas e a fama, longe de serem bens e valores, para o sábio são males. E ainda afirmou que os seus contrários, “pobreza” e “obscuridade”, são bens. Sobre Crates diz-se: “Vendeu seu patrimônio, já que pertencia a uma família distinta; recolheu cerca de duzentos talentos, que distribuiu aos seus concidadãos (...)• Diógenes o persuadiu a abandonar seus campos ao pasto das ovelhas e a jogar no mar o dinheiro que tivesse (...)• Foi perseverante no seu propósito e não se deixou desviar por seus parentes, que vinham visitá-lo e que freqüentemente teve que perseguir com o bastão (...)• Consignou seu dinheiro a um banqueiro, sob a condição de que, se seus filhos se tomassem profanos e incultos, desse-lhes o dinheiro, mas, se se tomassem filósofos, o distribuísse ao povo; porque os seus filhos, se se dedicassem à filosofia, não teriam necessidade de nada.”
O cínico deve ser apolide, porque a Polis é expugnável e não o refugio do sábio. A Alexandre, que lhe perguntava se queria que a sua cidade natal fosse reconstruída, respondeu: “E para que serviria? Talvez um outro Alexandre a destruísse.” E, numa obra, escreveu: “Minha pátria não tem só uma torre nem um só teto; mas onde é possível viver bem, em qualquer ponto de todo o universo, lá está minha cidade, lá está minha casa.”
Crates casou-se, mas com um mulher (chamada Hiparquia) que abraçara o cinismo e vivia com ele a “vida cínica”. A completa ruptura com a sociedade é demonstrada também no relato segundo o qual teria “casado a filha experimentalmente, por trinta dias”.
No século III a.C. tivemos notícia de um certo número de cínicos, como Bíon de Borístenes, Menipo de Gadara, Teletes e Menedemos. A Bíon parece que se deva atribuir a codificação da “diatribe”, forma literária que iria ter larga repercussão. A diatribe é um breve diálogo de caráter popular com conteúdo ético, escrita freqüentemente com linguagem mordaz. Trata-se, substancialmente, do diálogo socrático cinicizado. As composições de Menipo tomaram-se modelos literários. Luciano inspirar-se-á neles; a própria sátira latina de Lucílio e Horácio inspirar-se-á na característica de fondo dos escritos dos cínicos, os quais, precisamente “ridendo castigant mores” (“rindo, criticam os costumes”).
Nos últimos dois séculos da era pagã o cinismo se enfraqueceu. Além da exaustão de sua carga interna, o eclipse do cinismo foi determinado por razões sociais e políticas: ao robusto senso ético de romanidade repugnavam a doutrina e a vida cínicas. O juízo de Cícero é bastante eloqüente: “O sistema dos cínicos deve ser repudiado em bloco, pois é contrário à pudicícia, sem a qual nada pode ser reto e nada honesto.”