As virtudes éticas como "justo meio entre os extremos”

O homem é principalmente razão, mas não apenas razão. Com efeito, na alma “há algo de estranho à razão, que a ela se opõe e resiste”, mas que, no entanto, “participa da razão”. Mais preci­samente: “A parte vegetativa não participa em nada da razão, ao passo que a faculdade do desejo e, em geral, a do apetite participa de alguma forma dela enquanto a escuta e obedece.” Ora, o domínio dessa parte da alma e sua redução aos ditames da razão é a “virtude ética”, a virtude do comportamento prático.

Esse tipo de virtude se adquire com a repetição de uma série de atos sucessivos, ou seja, com o hábito: “Nós adquirimos as virtudes com uma atividade anterior, como acontece também com as outras artes. Com efeito, é fazendo que nós aprendemos a fazer as coisas que é necessário aprender antes de fazer: por exemplo, tomamo-nos construtores construindo e tocadores de cítara tocan­do a cítara. Pois bem, da mesma forma, realizando ações justas, tomamo-nos justos; ações moderadas, moderados; ações corajosas, corajosos.” Assim, as virtudes tomam-se como que “hábitos”, “estados” ou “modos de ser” que nós mesmos construímos do modo indicado. Assim como muitos são os impulsos e tendências que a razão deve moderar, também são muitas as “virtudes éticas”, mas todas têm uma característica essencial que é comum: os impulsos, as paixões e os sentimentos tendem ao excesso ou à falta (ao muito ou ao muito pouco); intervindo, a razão deve impor a “justa medida”, que é o “meio caminho” ou “mediania” entre os dois excessos. A coragem, por exemplo, é o meio caminho entre a temeridade e a vileza, ao passo que a liberalidade é o justo meio entre a prodigalidade e a avareza. Aristóteles diz muito claramen­te: “A virtude tem a ver com paixões e ações, nas quais o excesso e a falta constituem erros e são censurados, ao passo que o meio é louvado e constitui a retidão: e ambas essas coisas são próprias da virtude. Portanto, a virtude é uma espécie de mediania, porque, pelo menos, tende constantemente para o meio. Ademais, errar é possível de muitos modos (...), ao passo que agir retamente só é possível de um modo (...). Por essas razões, portanto, o excesso e a falta são próprios do vício, enquanto a mediania é própria da virtude: somos bons apenas de um modo, maus de variadas maneiras.”

Está claro que a mediania não é uma espécie de mediocri­dade, mas sim “uma culminância”, um valor, considerando que é vitória da razão sobre os instintos. Aqui, há quase que uma síntese de toda aquela sabedoria grega que havia encontrado sua expres­são típica nos poetas gnômicos, nos Sete Sábios, que haviam identificado no “meio caminho”, no “nada em excesso” e na “justa medida” a regra suprema do agir, assim como há também a aquisição da lição pitagórica que identificava a perfeição no “limi­te” e ainda, por fim, há uma exploração do conceito de “justa medida”, que desempenha um papel tão importante em Platão.

Dentre todas as virtudes éticas, destaca-se a justiça, que é a “justa medida” segundo a qual se distribuem os bens, as vantagens, os ganhos e seus contrários. E, como bom grego, Aristóteles reafirma o mais elevado elogio à justiça: “Pensa-se que a justiça é a mais importante das virtudes e que nem a estrela vespertina nem a estrela matutina sejam tão dignas de admiração quanto ela. E com o provérbio dizemos: ‘Na justiça está abarcada toda virtude.’ ”