As categorias ou “predicamentos”

O tratado sobre as categorias estuda aquilo que pode ser considerado como o elemento mais simples da lógica. Se tomarmos formulações como o “homem corre” ou então “o homem vence” e lhes rompemos o nexo, isto é, desligamos o sujeito do predicado, obte­remos “palavras sem conexão”, ou seja, fora de qualquer laço com a formulação, como “homem”, “corre” e “vence” (ou seja, termos não combinados que, combinando-se, dão origem à formulação). Ora, diz Aristóteles, “das coisas que são ditas sem nenhuma conexão, cada qual significa a substância, a quantidade, a qualidade, a relação, o onde, o quando, o estar em uma posição, o ter, o fazer ou o sofrer”. Como se vê, trata-se das categorias, que já conhecemos da Metafísica.

Como, do ponto de vista metafísico, as categorias represen­tam os significados fundamentais do ser, do ponto de vista lógico elas devem ser (conseqüentemente) os “gêneros supremos” aos quais deve ser reportável qualquer termo da formulação proposta. Tomemos a formulação “Sócrates corre” e vamos decompô-la: obteremos “Sócrates”, que entra na categoria de substância, e “corre”, que se enquadra na categoria do “fazer”. Assim, se digo “Sócrates está agora no Liceu” e decomponho a formulação, “no Liceu” será redutível à categoria do “onde”, ao passo que “agora” será redutível à categoria do “quando” e assim por diante.

O termo “categoria” foi traduzido por Boécio como “predicamento”, mas a tradução só expressa parcialmente o sentido do termo grego e, não sendo inteiramente adequada, dá origem a numerosas dificuldades, em grande parte elimináveis quando se mantém o original. Com e feito, a primeira categoria desempenha sempre o papel de sujeito e só impropriamente funciona como predicado, como quando digo “Sócrates é um homem” (isto é, Sócrates é uma substância); já as outras funcionam como predi­cado (ou, preferindo-se assim, são as figuras supremas de todos os possíveis predicados, os gêneros supremos dos predicados). E, naturalmente, como a primeira categoria constitui o ser sobre o qual se apóia o ser das outras, a primeira categoria será o sujeito e as outras categorias não poderão deixar de se referir a esse sujeito e, portanto, só elas poderão ser verdadeiros predicados.

Quando nos detemos nos termos da formulação, isolados e tomados cada qual em si mesmo, não temos nem verdade nem falsidade: a verdade (ou falsidade) não está nunca nos termos tomados singularmente, mas somente no juízo que os conecta e na formulação que expressa essa conexão.