Anaximenes de Mileto

Também em Mileto floresceu Anaximenes, discípulo de Anaximandro, no século VI a.C., de cujo escrito Sobre a natureza, em sóbria prosa jónica, chegaram-nos três fragmentos, além de testemunhos indiretos.

Anaximenes pensa que o “princípio” deve ser infinito, sim, mas que deve ser pensado como ar infinito, substância aérea ilimitada. Escreve ele: “Exatamente como a nossa alma (ou seja, o princípio que dá a vida), que é ar, se sustenta e se governa, assim também o sopro e o ar abarcam o cosmos inteiro.” E ainda: “O ar está próximo ao incorpóreo (no sentido de que não tem forma nem limites como os corpos e é invisível) e, como nós nascemos sob o seu fluxo, é necessário que ele seja infinito e rico, para não ficar reduzido.” Com base no que já dissemos sobre os dois filósofos anteriores de Mileto, está claro por que motivo o ar é concebido por Anaximenes como “o divino”.

Fica por esclarecer, no entanto, a razão pela qual Anaxime­nes escolheu o ar como “princípio”. E evidente que ele sentia a necessidade de introduzir uma physis que permitisse, de modo mais lógico e mais racional do que fizera Anaximandro, dela deduzir todas as coisas. Com efeito, por sua natureza de grande mobilidade, o ar se presta muito bem para ser concebido como estando em perene movimento (bem mais do que o infinito de Anaximandro). Ademais, o ar se presta melhor do que qualquer outro elemento às variações e transformações necessárias para fazer nascer as diversas coisas. Ao se condensar, resfria-se e se toma água e, depois, terra; ao se distender e dilatar, esquenta e toma-se fogo. Um claro testemunho antigo registra: “Anaximenes diz que o frio é a matéria que se contrai e condensa, ao passo que o calor é a matéria dilatada e distendida (é exatamente essa a expressão que ele usa). Assim, segundo Anaximenes, não sem razão se diz que o homem deixa sair da boca o quente e o frio: com efeito, a respiração esfria se for comprimida pelos lábios cerrados, mas, ao contrário, toma-se quente pela dilatação se sair da boca aberta.”

Desse modo, a variação quantitativa de tensão da realidade originária dá origem a todas as coisas. Em certo sentido, Anaxi­menes representa a expressão mais rigorosa e mais lógica do pensamento da escola de Mileto, porque, com o processo de “con­densação” e “rarefação”, ele introduz aquela causa dinâmica da qual Tales não havia falado ainda e que Anaximandro havia determinado apenas inspirando-se em concepções órficas. Assim, Anaximenes forneceu uma causa em plena harmonia com o “prin­cípio” e, consequentemente, em perfeito acordo com o significado da physis. Desse modo, é compreensível que os pensadores poste­riores se refiram a Anaximenes como a expressão paradigmática e o modelo do pensamento jónico. E quando, no século V a.C., houve uma revivescência desse pensamento (como veremos adiante), seria precisamente a physis aérea do princípio-ar de Anaximenes a inspirá-la.