Em grego, aquilo que nós hoje chamamos “virtude” se diz “areté”, como já acenamos, significando aquilo que toma uma coisa boa e perfeita naquilo que é, ou, melhor ainda, significa aquela atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada coisa, fazendo-a ser aquilo que deve ser. (Os gregos, portanto, falavam de virtude dos vários instrumentos, de virtude dos animais etc. Por exemplo: a “virtude” do cão é a de ser um bom guardião, a do cavalo é a de correr velozmente e assim por diante.) Consequentemente, a “virtude” do Intelectualismo ético.
O homem outra não pode ser senão aquilo que faz com que a alma seja tal como a sua natureza determina que seja, ou seja, boa e perfeita. E, segundo Sócrates, esse elemento é a “ciência” ou o “conhecimento”, ao passo que o “vício” seria a privação de ciência ou conhecimento, vale dizer, a “ignorância”.
Desse modo, Sócrates opera uma revolução no tradicional quadro de valores. Os verdadeiros valores não são aqueles ligados às coisas exteriores, como a riqueza, o poder, a fama, e tampouco os ligados ao corpo, como a vida, o vigor, a saúde física e a beleza, mas somente os valores da alma, que se resumem, todos, no “conhecimento”. Naturalmente, isso não significa que todos os valores tradicionais tomam-se desse modo “desvalores”; significa, simplesmente, que “em si mesmos, não têm valor”. Eles só se tomam ou não valores se forem usados como o “conhecimento” exige, òu seja, em função da alma e de sua “areté”.
Em resumo: riqueza, poder, fama, saúde, beleza e semelhantes “(...) ao que me parece, por sua natureza, não podem ser chamados de bens em si mesmos. A proposição é outra: dirigidos pela ignorância, revelam-se males maiores do que os seus contrários, porque mais capazes de servir a uma má direção; se, no entanto, são governados pelo juízo e pela ciência ou conhecimento, são bens maiores; em si mesmos, nem uns nem outros têm valor”.