Difusão do ideal cosmopolita

Ao declínio da Polis não corresponde o nascimento de orga­nismos políticos dotados de nova força moral e capazes de acender novos ideais. As monarquias helenísticas, nascidas da dissolução do império de Alexandre, ao qual nos referimos, foram organismos instáveis. Entretanto, não o foram de tal forma a provocar reação dos cidadãos nem de constituir um ponto de referência para a vida moral. De “cidadão”, no sentido clássico do termo, o homem grego toma-se “súdito”. A vida nos novos Estados se desenvolve independentemente do seu querer. As novas “habilidades” que contam não são mais as antigas “virtudes civis”, mas são deter­minados conhecimentos técnicos que não podem ser do domínio de todos, porque requerem estudos e disposições especiais. Em todo caso, estas perdem o antigo conteúdo ético para adquirir um conteúdo propriamente profissional. O administrador da coisa pública toma-se funcionário, soldado ou mercenário. E, ao lado deles, nasce aquele homem que, não sendo mais nem o antigo cidadão nem o novo técnico, assume diante do Estado uma atitude de desinteresse neutro, quando não de aversão. As novas filosofias teorizam essa nova realidade, colocando o Estado e a política entre as coisas neutras, ou seja, moralmente indiferentes ou franca­mente entre as coisas a evitar.

Em 146 a.C., a Grécia perde totalmente a liberdade, toman­do-se uma província romana. O que Alexandre sonhou, os romanos o realizaram de outra forma. E assim o pensamento grego, não vendo uma alternativa positiva à Polis, refugiou-se no ideal do “cosmopolitismo”, considerando o mundo inteiro uma cidade, a ponto de incluir nessa cosmo-polis não só os homens mas também os deuses. Desse modo, dissolve-se a antiga equação entre homem e cidadão e o homem é obrigado a buscar sua nova identidade.