Conclusões sobre os socráticos menores

Tudo o que temos dito sobre os socráticos, por si mesmo, já deve ter persuadido os leitores de que as várias qualificações que lhes têm sido dadas, de “menores”, “semi-socráticos” ou “socráticos unilaterais”, são bastante adequadas. Alguns estudiosos, como Robin, por exemplo, tentaram refutá-las, mas erroneamente.

Eles são qualificáveis de “menores” se considerarmos os resultados a que chegaram, comparados com os de Platão, que são inegavelmente muito mais significativos, como a exposição sobre Platão o demonstrará precisamente.

Eles são qualificáveis de “semi-socráticos” porque os cínicos e os cirenaicos permanecem meio sofistas e os megarenses meio eleáticos. Ademais, eles não realizam entreSócrates e as outras fontes de inspiração uma verdadeira mediação sintética, mas permanecem oscilantes, porque não sabem dar ao seu discurso um novo fundamento.

Eles são qualificáveis de “socráticos unilaterais” porque, em seu prisma, filtram um único raio da luz que se desprende de Sócrates, por assim dizer: ou seja, exaltam um único aspecto da doutrina ou da figura do mestre em prejuízo dos outros — e, portanto, fatalmente o deformam.

No entanto, Robin tem razão quando destaca que, nos socrá­ticos menores “a influência do Oriente, até então sempre contra­balançada no espírito grego pela tendência racionalista, afirma-se cruamente no pensamento de Antístenes, o filho da escrava trácia, e de Aristipo, o grego africano”. E também tem razão ao afirmar que esses socráticos “já são helenistas”: os cínicos são precursores dos estóicos, os cirenaicos dos epicúreos e, paradoxalmente, os megarenses forneceram abundantes armas para os eéticos.

A descoberta teorética, que delineia os horizontes platônicos e à qual fizemos várias referências, é aquela à qual o próprio Platão, no Fédon, como veremos, denominou a “segunda navegação”. Trata-se da descoberta metafísica do supra-sensível: seria exa­tamente essa descoberta que, colocada na base das intuições socráticas, iria fermentá-las, ampliá-las e enriquecê-las, levando- as a resultados de alcance filosófico e histórico absolutamente excepcional.